quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

O pós-confinamento, o novo normal e a apatia na sala de aula


A Pandemia Covid-19 trouxe mudanças profundas e imprevisíveis que afetam indivíduos de todas as faixas etárias, incluindo na idade escolar. Apesar de estarmos a abordar um assunto novo, desconhecido e incerto, a literatura científica já se tem dedicado ao estudo das consequências emocionais da pandemia, um pouco por todo o mundo. Foram identificados sinais de apatia emocional, ansiedade e cansaço extremo na maioria dos adolescentes.

Regressar presencialmente à escola implicou um reaprender a pensar, estudar, estabelecer relações lógicas e passar por momentos de avaliação. As reações dos adolescentes são variadas, mas identificaram-se as mais comuns: apatia em sala de aula, ansiedade e recusa em permanecer na escola
Posto isto, é fundamental que o ensino encare esta nova fase como um grande desafio, que exige a implementação de novas estratégias e de novas metodologias. Esta realidade implica um maior investimento na empatia, uma maior atenção para a inclusão e para a identificação de diferentes necessidades e, acima de tudo, no saber escutar e observar nuances comportamentais que podem ter significados que vão para além do óbvio.
O QUE É A APATIA?
"Não quero saber." Três palavras simples que deixam um professor desarmado, mesmo que tenha muita experiência com crianças ou adolescentes. A apatia pode manifestar-se de várias formas, mas as mais comuns são a falta de participação nas aulas, manter a cabeça baixa ou olhar no vazio, não responder às questões que o professor coloca durante a aula ou não concluir as tarefas.
Para além de poder ser considerada como um sintoma associado ao “novo” normal pós-pandemia, a apatia pode estar relacionada com outros aspetos. Será que o aluno tem problemas familiares? Problemas de saúde mental ou física? Dificuldades de aprendizagem? Será que dorme bem?
A apatia é, por vezes, uma forma de esconder algo que não se consegue enfrentar. É mais fácil dizer “não me importo” do que “preciso de ajuda”. O primeiro passo para tentar intervir nesta área começará sempre por tentar avaliar a causa, olhar para cada aluno na sua individualidade, sem ceder à tentação de generalizar.
O COMPORTAMENTO ESTÁ LOCALIZADO NUM ALUNO, NUMA DISCIPLINA, NUMA TURMA, NUMA ESCOLA, OU É ALGO MAIS ABRANGENTE?
É fundamental que se procure compreender todo um contexto. O aluno é apático em todas as aulas? Ou a sua apatia aumenta ou diminui consoante a aula/disciplina/matéria? Será que esta apatia é transversal a todos os ambientes onde o aluno está inserido? Também ocorre em contexto familiar, na relação com os pares ou nas atividades extracurriculares? Será que o aluno está a conseguir conciliar a sua permanência na escola com as suas prioridades futuras?
Para um adolescente, é difícil ficar motivado quando não consegue ver a relação entre a matéria que está a estudar e o que pretende da vida em termos profissionais. O que será que o aluno deseja para si a longo prazo? Prosseguir estudos? Entrar no mercado de trabalho? A família conhece esses objetivos? A família tem as mesmas prioridades?
Quando sabemos quais são os objetivos dos alunos para o seu futuro, podemos ajudar a contextualizar o seu trabalho diário. Se eu sei que meu aluno quer fazer um curso profissional de cozinha, posso ajudá-lo a perceber a importância da gramática na elaboração de ementas e menus, posso mostrar como é utilizada a química na culinária, posso utilizar a matemática para alterar as quantidades dos ingredientes, etc. Se o aluno pretende prosseguir estudos, posso ajudá-lo a entender como cada final de semestre representa mais uma etapa ultrapassada para atingir a finalização de ciclo e, posteriormente, o prosseguimento dos estudos.
CONSTRUIR PONTES
Um bom começo será sempre tentar perceber quais os interesses do aluno. Existirá sempre a possibilidade de se construírem pontes entre esses interesses e o programa a lecionar. A paixão por tecnologias ou gaming, desporto ou artes podem sempre ter alguma correspondência com as matérias que se vão lecionar ou com os trabalhos que se podem pedir. A aprendizagem baseada em projetos, em problemas/busca de soluções, métodos orientados para a investigação, trabalho colaborativo entre pares e a correspondência sistemática com o mundo real podem ajudar os alunos a criar pontes com o currículo.
MOSTRAR QUE SE PREOCUPA
Preocupar-se não é o mesmo que pensar que consegue controlar tudo. Sabemos que, mesmo com um investimento muito significativo por parte do professor, mesmo com estratégias variadas e lúdicas, há alunos que ficam mais focados/motivados/participativos e outros que não. O professor contribui para influenciar indiretamente estas mudanças, sendo claro que aumenta bastante a probabilidade de sucesso quando ensina com afeto. É fundamental que os alunos percebam que o professor se preocupa com eles.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em conclusão, podemos dizer que muitos dos alunos que dizem “não quero saber” provavelmente estão a sentir algo como “não querem saber”. Assim, é importante que o professor procure garantir que os alunos, cada um deles, entendam que são importantes e que a escola vai ao encontro das suas necessidades para o ajudarem a progredir e atingir o seu máximo potencial, com motivação e gosto pela aprendizagem.
REFERÊNCIAS
(imagem retirada da internet)

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